Uma viagem aos recônditos brasileiros
Jorge Bodanzky mostra como transferir a idéia da cabeça para as telas
Jorge Bodanzky mostra como transferir a idéia da cabeça para as telas
Dos dias 23 a 28 de maio, aconteceu a Semana de Jornalismo da PUC-SP. Seguindo o ciclo de debates sobre o tema “Direitos Humanos”, na quarta-feira pela manhã o palestrante foi o documentarista Jorge Bodanzky. Com quase 70 anos de idade, o cineasta esbanja determinação quando o assunto é retratar a realidade. Dentre suas obras, merece destaque “Iracema -Uma transa amazônica”, lançada em 1975.
O filme mistura ficção com documentário, retratando o envolvimento de um motorista de caminhão com uma prostituta. Jorge teve a idéia do filme em uma das suas muitas viagens para a Amazônia, que trabalhava como fotógrafo, onde observou a questão da prostituição que acontecia no trajeto da Transamazônica. Em todos os postos de gasolina por onde passava via a mesma cena com prostitutas fazendo ponto e caminhoneiros parando para fazer programa com elas. O filme, censurado pela Ditadura Militar, teve espaço para ser exibido dentro da PUC, que tinha um movimento cineclubista militante naquela época.
O documentarista que sempre teve muito contato com a Alem anha, pois morou e trabalhou lá fotografando e fazendo películas por muitos anos, teve o filme financiado por uma emissora alemã. “Fiz filmes bastante ligados a problemática brasileira, mesmo sendo recursos da TV Alemã, não tem nada de Alemanha no meu filme. A TV Alemã na época tinha um programas muito livres, que procuravam dar informações de todos os lugares do mundo. Então eles financiavam projetos de outros paises. E eu segui esse financiamento justamente porque eu tinha uma visão livre. Não houve uma imposição de conteúdo ”.
Segundo palavras de Jorge, um dos papéis do documentário é ter uma reflexão sobre aquilo que está sendo montado, ter um distanciamento em relação ao objeto estudado. Bodanzky disse ainda que hoje em dia o cinema documentário está vivendo uma fase de ouro, pois o processo de fazer documentário se democratizou por causa da facilidade tecnológica e financeira. Porém, o conteúdo desse trabalho continua tendo dificuldades. O jornalista usa o documentário para o propósito jornalístico, na reportagem. Mas também existe o documentário que é uma reflexão sobre determinado tema.
Para ele, o filme para sair tem que ter uma idéia na cabeça, uma história para contar. Quantidade não quer dizer qualidade, se a idéia for forte, sairá um bom filme. Na palestra afirmou: “Não saia com uma câmera na mão sem uma idéia. Primeiro vem a câmera e depois a idéia na cabeça.”
Vendo a WEB como uma ótima plataforma de exibição de documentários, Bodanzky criou o projeto TV Navegar, uma webTV que tem como objetivo dar voz a população da Amazônia através de documentários que retratam seu cotidiano e os problemas enfrentados por ela. Assim, através da tecnologia, ele dá visibilidade à cultura local e as pessoas que fazem parte desse cenário exuberante da Amazônia.
Mesmo com a repressão que enfrentou na época da ditadura, Bodanzky não desanimou e parou. Seu trabalho atual é o documentário “No meio do rio, entre as árvores”, onde se pode observar o resultado de suas oficinas de vídeo no Alto Solimões. Levando ao pé da letra o aprendido, com uma idéia na cabeça e a câmera na mão, a população ribeirinha registra seu cotidiano, mostrando sua cultura para o mundo.
A reflexão que fica de todo o trabalho de Jorge Bodanzky é a de que o jornalista deve retratar a realidade brasileira, muitas vezes não se limitando as megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, mas indo para novos horizontes, para dar voz aqueles que tem muita história para contar, mas não possui os meios para isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário