terça-feira, 27 de abril de 2010

O vôo do repórter-canarinho

Às Margens do Sena narra a trajetória jornalística do correspondente da Rádio Jovem Pan, Elpídio Reali Júnior, instalado em Paris desde setembro de 1972. Jornalista por vocação, pois não se graduou, também escrevia para o jornal O Estado de S. Paulo, que inseria suas matérias em diversas editorias - de acordo com o conteúdo. Reportava sobre qualquer tema, sempre o relacionando com o Brasil.
Iniciou sua carreira aos 16 anos, pois queria se casar. Começou como locutor comercial da Rádio Panamericana, atual Jovem Pan, mas logo foi cobrir futebol, uma de suas paixões. Foi repórter de campo entre o fim da década de 50 e início de 60, cobrindo a geração de Pelé e Garrincha.
O apelido “repórter-canarinho” foi dado por Geraldo José de Almeida, narrador de esportes da Rádio Panamericana na época em que Reali começou a cobrir futebol em campo, pois ele era menino e loirinho, um “canarinho”. Sua carreira começa a deslanchar, chegando a trabalhar em cinco lugares ao mesmo tempo: Rádio Jovem Pan, Rádio e TV Record, Diário da Noite (São Paulo) e O Globo (Rio de Janeiro). Dizia que o segredo era trabalhar em meios de comunicação que não eram concorrentes, pois assim, as matérias não coincidiam.
Todas as histórias, divididas em capítulos curtos, são narradas em forma de depoimentos. A ideia de fazer um livro de entrevistas contando fatos da vida de Reali Jr. veio de seu colega, o jornalista Gianni Carta. Foram aproximadamente trinta horas de entrevistas, incluindo depoimentos de pessoas relacionadas ao assunto abordado no capítulo.
Narra suas entrevistas com Leonel Brizola, Adhemar de Barros e os presidentes franceses Giscard e Mitterand, entre outras personalidades. Conta sua cobertura quase que exclusiva, na Revolução dos Cravos, em Portugal e suas viagens pelos países europeus após a Segunda Guerra.
O destaque fica para a cobertura ao vivo do Golpe Militar de 1964, que teve o privilégio de presenciar de dentro do Palácio dos Campos Elíseos. Tendo o telefone como único meio de comunicação, ligava para a Rádio Jovem Pan e transmitia ao vivo os acontecimentos de dentro do Palácio.
Indagado sobre como conciliava suas ideias políticas e o trabalho de jornalista, diz: “Eu tentava ser imparcial como, por exemplo, quando era setorista do Palácio do Governo e cobria o Adhemar de Barros (...) Mas sou humano, estava mergulhado numa luta contra a ditadura, não podia ser omisso”.
Suas coberturas em Paris, em sua maioria, envolvendo assuntos políticos, sempre foram regadas a muito vinho e gastronomia refinada, tranformando-o, segundo palavras do próprio autor, de gourmet a gourmand (glutão).
Um livro repleto de informações cruciais para os jornalistas atuais. Introduz assuntos importantes que devem ser relembrados e aprofundados em matérias ou artigos redigidos pelos novos profissionais.
Mesclando fatos e dados densos da política, com histórias engraçadas de seu cotidiano e curiosidades, de depoimento em depoimento, sua trajetória vai sendo traçada. Assim, o homem de sangue italiano, apreciador de bom vinho, que na casa de sua avó materna degustava comida apimentada e vatapá, prende o leitor até a última palavra de Às Margens do Sena.

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