Na sociedade do imediatismo em que estamos o tempo tornou-se obsoleto, pois vivemos correndo de um lado para o outro, e ainda não temos tempo para nada. Em meio ao auge da era tecnológica, onde temos notícias sobre o que queremos em fração de segundos, esperar por algo, tornou-se tarefa árdua. Sentar e ficar assistindo a um vídeo por 60 minutos com uma única imagem de um relógio digital cronometrando esse tempo e uma pessoa tentando seguir o relógio, copiando incessantemente a hora que o relógio marca, absolutamente impossível.
Essa experiência é possível ser vivenciada e testada no Centro Cultural São Paulo, na exposição Wonderland- Ações e Paradoxos, que com o uso de tecnologia moderna, ficam espalhadas televisões de plasma, dez no total, pelo espaço do Centro, onde o observador se senta em poltronas confortáveis e assiste a vídeos sem nexo, onde os artistas praticam ações totalmente sem lógica, que não levam a nada. Alguns vídeos, como o “Acender” passam sensações de desespero, mesmo sendo apenas uma imagem visual, sem sons.
Já o “Despejar”, apesar de seguir a linha dos outros vídeos da exposição, traz um fundo ideológico do que os homens estão fazendo com a natureza. No caso, o gelo, representa a natureza, e a gelatina vermelha, despejada pela autora, as ações agressivas à ela que o homem pratica, muitas vezes sem consciência do que está fazendo. Mostra o quanto uma ação que o homem faz com a natureza pode marcá-la, levando bastante tempo para desaparecer, pois no vídeo, as manchas vermelhas vão levar muito tempo para serem absorvidas pela neve. Assim, mostra que não existe ação que não traga conseqüências.
Outro que merece comentário é o “Nadar”, que mostra uma pessoa nadando em uma água barrenta e suja, que não chega a lugar nenhum. Com som, no “percurso”, se ouve um burburinho de pessoas falando e motores de carro. Representa a luta do ser humano de chegar a algum lugar, deixando tudo e todos para trás, mesmo sem saber para onde irá. Seguindo a mesma linha, está o “Remar”, que não tem som e mostra um cara remando em uma pequena ilha de costas. Assim como o “Nadar”, representa o nosso dia-a-dia, em que remamos contra a maré da vida, sem enxergar o que está por vir.
Assim, a exposição, apesar de não ser lógica, pode fazer sentido se pensarmos sobre a ótica da luta do homem e dos males que esse mesmo homem pode fazer com a natureza, mesmo sem perceber. Muitas vezes, fadados ao imediatismo, os seres humanos fazem ações repetitivas que não são percebidas, precisando muitas vezes, de algo ilógico para que possam ser enxergadas. Não existe nada sem sentido na arte. Ela é a maneira de expressar o que a sociedade sente, o mal estar da civilização.
Em paralelo com essa exposição, temos o documentário Koyaanisqatsi: Life out of balance, de 1983, que mostra, de maneira espetacular para a época, a diferença entre o ritmo frenético das metrópoles e o ritmo contínuo da natureza, com o dia passando calmamente e a noite chegando à sua hora.
Feito pelo diretor Godfrey Reggio, mostra os eventos da natureza (como o raiar do sol e o anoitecer), visualizados através de janelas de prédios. No primeiro, o sol sob o reflexo de uma janela espelhada, provavelmente de um prédio comercial, e no segundo, a lua atrás de um prédio.
Mostra como algo que parece normal, como o trânsito e a quantidade de transeuntes, vai se tornando cada vez mais insuportável, em um ritmo frenético acompanhado pela velocidade da música que também vai aumentando a medida que o vídeo vai passando.
É incrível, pois o vídeo foi feito há 27 anos atrás e nos parece tão atual, pois mostra de maneira clara a velocidade frenética em que vivemos. Esse ritmo desenfreado, rumando a algo que não sabemos onde vai dar, assim como mostra a exposição Wonderland. Não paramos um minuto, rumando à velocidade luz.
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