quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Resenha do Livro Fama e Anonimato

Muito além de um olhar
O livro mostra como é possível fazer um jornalismo se baseando apenas em fatos reais



Fama e Anonimato é uma surpreendente compilação de três dos vários livros consagrados do grande escritor Gay Talese. Lançado no Brasil em 1973, foi durante anos uma raridade bibliográfica muito procurada por jornalistas brasileiros. Enquadra-se no chamado novo jornalismo, riquíssimo em detalhes, onde nos deparamos com um jornalismo real, existindo além da pesquisa de campo, uma análise minuciosa do ser humano, para poder chegar à precisão sobre o assunto abordado.
Precisão, aliás, é a palavra que define a obra, pois se atentando para os mínimos detalhes como, por exemplo, 8485 telefonistas em Nova York na década de 60, o autor consegue fazer com que o leitor fique instigado à leitura até chegar ao desfecho da história narrada. Detalhes às vezes inúteis conseguem ganhar vida e um enredo digno de novela, através do olhar bem-humorado do autor.
O novo jornalismo é lido na maioria das vezes como uma ficção, pois seu caráter descritivo, com uma abordagem mais imaginativa da reportagem e o autor se inserindo na narrativa quando quer, faz com que o leitor se sinta em uma ficção. Mas não é isso que Gay Talese traz em sua obra.
É abordada a realidade, de maneira neutra e precisa, mas com dados reais, não inventados. Ele faz uma observação minuciosa das situações reveladoras em que se encontram seus personagens, absorvendo a cena em sua inteireza. A partir disso, em geral, ele escreve do ponto de vista dos sujeitos retratados, onde se revela, muitas das vezes, até o que as pessoas pensam. Por meio de entrevistas e perguntas certas na hora certa, Gay Talese aprende e reporta o que se passa com o próximo.
Como ele mesmo diz em sua obra: “Mais importante que o que elas dizem, é o que elas pensam, embora num primeiro momento seja difícil para elas articular o próprio pensamento (...) Seja onde for, procuro estar presente em meu papel de confidente curioso, um companheiro de viagem digno de confiança que procura examinar o seu interior, tentando descobrir, esclarecer e afinal descrever com palavras (minhas palavras) o que essas pessoas representam e o que pensam”.
O autor começa narrando como era Nova York na década de 60, especialmente sobre as pessoas anônimas que nela habitam. Ele fez uma série sobre as pessoas que ninguém vê, na revista Esquire e resolveu ampliá-la para o livro Nova York-A jornada de um serendipitoso. O livro é a primeira parte do Fama e Anonimato.
A segunda, fala da construção da ponte Verrazano-Narrows, que liga o Brooklyn e Staten Island, em Nova York. Foi um trabalho árduo de 1961 a 1964 de pesquisas, mas que culminou em uma obra excêntrica, o livro A ponte, que se encontra na íntegra, com a linguagem original de 60, sem adaptações para a década de 90.
A terceira parte retrata a fama de muitas pessoas e seu declínio perante o “errático vaivém dos holofotes da fama”. Merece destaque o texto célebre que fez a respeito do cantor Frank Sinatra sem nem mesmo ter o entrevistado. O leitor tem a impressão que o autor está junto com o cantor em alguns trechos do livro, quando na verdade, se baseou apenas nas matérias que falavam a respeito de Frank Sinatra.
Sem um gravador na mão, e muito menos um computador para fazer pesquisas, Gay Talese mostra como é possível fazer um jornalismo sério, real e perspicaz com o simples ato de olhar nos olhos e entender o que se passa com cada pessoa, inserindo-se na história de cada pessoa. Com absoluta certeza é um livro indispensável para qualquer cabeceira.

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