Virada à Francesa O verde e amarelo se misturam ao azul, vermelho e brancoAconteceu, no último final de semana (02 e 03 de maio) a Virada Cultural, evento promovido desde 2005 pela Prefeitura de São Paulo, com o objetivo de promover na cidade uma maratona cultural de 24 horas. Nessa última edição, contou com um público estimado em quatro milhões de pessoas, entre as platéias das unidades da rede SESC, dos 42 Centros Educacionais Unificados, museus administrados pela Secretaria do Estado da Cultura, Teatro Municipal de São Paulo e palcos de rua.
Foram mais de 800 atrações entre performances musicais e intervenções artísticas. Zeca Baleiro, Odair José, Wando, Reginaldo Rossi, Velhas Virgens, CPM 22, Ike Willis e Central Scrutinizer Band estão entre os elencados. No Teatro Municipal, o músico Tom Zé, Francis Hime e Orquestra Experimental de Repertório, tiveram um grande número de público. Dentre os destaques, estava a homenagem “20 anos sem Raul”, onde fãs do cantor e compositor Raul Seixas puderam participar do tributo e ouvir as interpretações de suas canções.
A cantora Maria Rita foi quem fez o fechamento oficial da Virada Cultural, se apresentando às 18 horas do domingo (03/05), no palco principal, localizado na Avenida São João. “Estou em estado de plenitude, absoluta graça, intensa alegria, ‘quicando’ pela casa. É uma alegria e satisfação doida. Um presente de São Paulo.”, disse a cantora no final de seu show.
Um dos intuitos da Virada é a inserção da cultura às diversas classes sociais, fazendo com que todos os cidadãos possam desfrutar do que São Paulo tem a oferecer, sem os limites financeiros impostos por diversos locais, como é o caso do Teatro Municipal. Além disso, ocorre a contribuição para o renascimento do Centro Velho de São Paulo, região principal de todos os eventos, levando os paulistanos a redescobrirem uma parte significativa dos pontos históricos da cidade, que normalmente se esvazia durante a noite.
A Virada Cultural já faz parte do calendário de todos os paulistanos e de muitos turistas. Grande prova disso, foi o comparecimento de tantas pessoas, superando o público de 2008, estimado em 3,5 milhões de pessoas, na primeira vez que o evento ocorreu num feriado prolongado. De acordo com o prefeito Gilberto Kassab, “indiscutivelmente, a Virada se consolida a cada ano. É o grande evento da cultura brasileira, em termos de público e qualidade”.
O evento foi inspirado na “Nuit Blanche” parisiense, noite em que as ruas da capital francesa são tomadas pelos artistas e pelo público, com atrações que seguem madrugada adentro. Agita anualmente a capital francesa, e ocorre no bairro de Montmatre. Em São Paulo, o festival ganhou contornos superlativos. Para homenagear o berço da “Noite Branca”, a Virada trouxe atividades ligadas à cultura francesa, como a performance do Groupe Carbosse, trazida pelo Sesc na praça da Luz, que mostrou sua grande instalação visual e sonora, utilizando o fogo e a música para estimular os sentidos, no pré-lançamento da Virada, no dia 1º, e numa segunda sessão, no dia 2 de maio. A apresentação marca o Ano da França no Brasil.
Assim, o Sesc Pompéia preparou uma programação “à francesa”, trazendo a França para o Brasil, com o tema “Paris é Uma Festa”. “Para o projeto Ano da França no Brasil, o Sesc São Paulo selecionou uma programação que busca apresentar ao público brasileiro a criação artística francesa contemporânea, nas mais diversas linguagens”, diz Joel Naimayer Padula, superintendente técnico-social do Sesc. A programação se estende até novembro.
“Paris é Uma Festa” A programação trouxe um breve passeio noturno por algumas expressões culturais vividas no século XIX e XX na França. Das noites de cabarés aos romances que abalaram o mundo literário. Na Rua Central da Unidade foram instalados luminosos com informe de filmes franceses. Dentre eles, destacava-se a capa do filme “Plein Soleil”, com o ator francês Alan Delon, conhecido mundialmente por seu poder de atuação e beleza, na década de 50. Também merece destaque o filme “Crea La Femme”, com Brigitte Bardot, que escolheu o Brasil, em especial, Búzios, como o primeiro lugar no mundo para visitar, recebendo uma estátua como homenagem, situada na cidade de Búzios.
Houve apresentações musicais como “Cabaret 68”, com uma banda mirim que apresentou músicas francesas no espírito revolucionário e hippie dos anos 60; “ Quai du Pompéia”, onde artistas se apresentaram com repertório “afrancesado” e fizeram performances representando os ícones da música e cultura francesa; “Virada à Francesa”, com versões de músicas brasileiras apresentadas em francês; e, “L’Arrivée Du Soleil- A Chegada do Sol”, recital no café da manhã.
Foi rodado o vídeo “Mademoiselle France”, trabalho de Eduardo Beu, que apresentou um amplo panorama sobre o cinema e a música francesa do séc. XX, através de extratos de obras vanguardistas. Também teve “Novos Franceses Remix”, onde os participantes puderam fazer experimentos musicais usando o software Audacity com músicas disponibilizadas no site francês Jamendo. Poemas e textos franceses foram oferecidos ao público (“Poeme Française”) e houve uma apresentação de Simonetta Persichetti sobre Paris noturna de Brassai ( 1889-1984).
A unidade ainda trouxe intervenções, centralizadas na Rua Central, durante as 24 horas do evento, como: “La Toute-Puissance Du Revê (A Onipotência do Sonho)”, com inspiração nas personagens sem face do pintor René Magritte e dos textos de André Breton, Aragon e Artaud; “Manifesto Dada” (Manifesto Dadaísta);” Je T’Aime (Eu Te Amo)”, onde atrizes que vivem o papel de garotas de cabaré falavam ao pé do ouvido do público; “Chanson Française (Canção Francesa)”, com a apresentação de uma cantora, tipicamente francesa, vestida de saia longa, bota e boina, que com uma garrafa de cerveja na mão, cantou um repertório de canções francesas da virada do séc.XIX para o séc. XX, com bastante sentimentalismo e melancolia; “Canto a Canto à Francesa”, com leituras gramáticas de textos e poemas de autores franceses como Baudelaire, Verlaine, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir; e ainda, a irreverente boneca “Dolores Bourbon”, decadente cafetina do Cabaret Moulin Rouge, que recepcionou as pessoas na entrada da Unidade, unindo humor e descontração.
A boneca, manipulada pelo ator Márcio Pontes, da Cia. Polichinelo, recebia calorosamente as pessoas que entravam na
Unidade, interagindo com eles a todo o momento, e fazendo todos rirem muito com seus
comentários, e principalmente com sotaque afrancesado. Assim, o público se divertia a todo o momento e se familiarizava com a cultura francesa. Foi diversão e cultura garantida para todas as idades, fazendo tanto adultos como crianças aprenderem mais sobre a França de uma maneira muito original.